quinta-feira, 26 de abril de 2007

25 de Abril, sempre!

"As Portas Que Abril Abriu"
J. C. Ary dos Santos
Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra. Onde entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo se debruçava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza. Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raiz tinha o fruto arrecadado onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro quem nascia desgraçado. Era uma vez um país de tal maneira explorado pelos consórcios fabris pelo mando acumulado pelas ideias nazis pelo dinheiro estragado pelo dobrar da cerviz pelo trabalho amarrado que até hoje já se diz que nos tempos do passados e chamava esse país Portugal suicidado. Ali nas vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras vivia um povo tão pobre que partia para a guerra para encher quem estava podre de comer a sua terra. Um povo que era levado para Angola nos porões um povo que era tratado como a arma dos patrões um povo que era obrigado a matar por suas mãos sem saber que um bom soldado nunca fere os seus irmãos. Ora passou-se porém que dentro de um povo escravo alguém que lhe queria bem um dia plantou um cravo. Era a semente da esperança feita de força e vontade era ainda uma criança mas já era a liberdade. Era já uma promessa era a força da razão do coração à cabeçada cabeça ao coração. Quem o fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão. Esses que tinham lutado a defender um irmão esses que tinham passado o horror da solidão esses que tinham jurado sobre uma côdea de pão ver o povo libertado do terror da opressão. Não tinham armas é certo mas tinham toda a razão quando um homem morre perto tem de haver distanciação Uma pistola guardada nas dobras da sua opção uma bala disparada contra a sua própria mão e uma força perseguida que na escolha do mais forte faz com que a força da vida seja maior do que a morte. Quem o fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão. Posta a semente do cravo começou a floração do capitão ao soldado do soldado ao capitão. Foi então que o povo armado percebeu qual a razão porque o povo despojado lhe punha as armas na mão. Pois também ele humilhado em sua própria grandeza era soldado forçado contra a pátria portuguesa. Era preso e exilado e no seu próprio país muitas vezes estrangulado pelos generais senis. Capitão que não comanda não pode ficar calado é o povo que lhe manda ser capitão revoltado é o povo que lhe diz que não ceda e não hesite– pode nascer um país do ventre duma chaimite. Porque a força bem empregue contra a posição contrária nunca oprime nem persegue– é força revolucionária! Foi então que Abril abriu as portas da claridade e a nossa gente invadiu a sua própria cidade. Disse a primeira palavra na madrugada serena um poeta que cantava o povo é quem mais ordena. E então por vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras desceram homens sem medo marujos soldados «páras» que não queriam o degredo dum povo que se separa. E chegaram à cidade onde os monstros se acoitavam era a hora da verdade para as hienas que mandavam a hora da claridade para os sóis que despontavam e a hora da vontade para os homens que lutavam. Em idas vindas esperas encontros esquinas e praças não se pouparam as feras arrancaram-se as mordaças e o povo saiu à rua com sete pedras na mão e uma pedra de lua no lugar do coração. Dizia soldado amigo meu camarada e irmão este povo está contigo nascemos do mesmo chão trazemos a mesma chama temos a mesma ração dormimos na mesma cama comendo do mesmo pão. Camarada e meu amigo soldadinho ou capitão este povo está contigo a malta dá-te razão. Foi esta força sem tiros de antes quebrar que torcer esta ausência de suspiros esta fúria de viver este mar de vozes livres sempre a crescer a crescer que das espingardas fez livros para aprendermos a ler que dos canhões fez enxadas para lavrarmos a terra e das balas disparadas apenas o fim da guerra. Foi esta força viril de antes quebrar que torcer que em vinte e cinco de Abril fez Portugal renascer. E em Lisboa capital dos novos mestres de Aviz o povo de Portugal deu o poder a quem quis. Mesmo que tenha passado às vezes por mãos estranhas o poder que ali foi dado saiu das nossas entranhas. Saiu das vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras onde um povo se curvava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza. E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe. Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu. Essas portas que em Caxias se escancararam de vez essas janelas vazias que se encheram outra vez e essas celas tão frias tão cheias de sordidez que espreitavam como espias todo o povo português. Agora que já floriu a esperança na nossa terra as portas que Abril abriu nunca mais ninguém as cerra. Contra tudo o que era velho levantado como um punho em Maio surgiu vermelho o cravo do mês de Junho. Quando o povo desfilou nas ruas em procissão de novo se processou a própria revolução. Mas eram olhos as balas abraços punhais e lanças enamoradas as alas dos soldados e crianças. E o grito que foi ouvido tantas vezes repetido dizia que o povo unido jamais seria vencido. Contra tudo o que era velho levantado como um punho em Maio surgiu vermelho o cravo do mês de Junho. E então operários mineiros pescadores e ganhões marçanos e carpinteiros empregados dos balcões mulheres a dias pedreiros reformados sem pensões dactilógrafos carteiros e outras muitas profissões souberam que o seu dinheiro era presa dos patrões. A seu lado também estavam jornalistas que escreviam actores que se desdobravam cientistas que aprendiam poetas que estrebuchavam cantores que não se vendiam mas enquanto estes lutavam é certo que não sentiam a fome com que apertavamos cintos dos que os ouviam. Porém cantar é ternura escrever constrói liberdade e não há coisa mais pura do que dizer a verdade. E uns e outros irmanados na mesma luta de ideais ambos sectores explorados ficaram partes iguais. Foi então se bem vos lembro que sucedeu a vindima quando pisámos Setembro a verdade veio acima. E foi um mosto tão forte que sabia tanto a Abril que nem o medo da morte nos fez voltar ao redil. Ali ficámos de pé juntos soldados e povo para mostrarmos como é que se faz um país novo. Ali dissemos não passa! E a reacção não passou. Quem já viveu a desgraça odeia a quem desgraçou. Foi a força do Outono mais forte que a Primavera que trouxe os homens sem dono de que o povo estava à espera. Foi a força dos mineiros pescadores e ganhões operários e carpinteiros empregados dos balcões mulheres a dias pedreiros reformados sem pensões dactilógrafos carteiros outras muitas profissões que deu o poder cimeiro a quem não queria patrões. Desde esse dia em que todos nós repartimos o pão é que acabaram os bodos— cumpriu-se a revolução. E em sua pátria fizeram o que deviam fazer: ao seu povo devolveram o que o povo tinha a haver: Bancos seguros petróleos que ficarão a render ao invés dos monopólios para o trabalho crescer. Guindastes portos navios e outras coisas para erguer antenas centrais e fios dum país que vai nascer. Mesmo que seja com frio é preciso é aquecer pensar que somos um rio que vai dar onde quiser. Pensar que somos um mar que nunca mais tem fronteiras e havemos de navegar de muitíssimas maneiras. No Minho com pés de linho no Alentejo com pão no Ribatejo com vinho na Beira com requeijão e trocando agora as voltas ao vira da produção no Alentejo bolotas no Algarve maçapão vindimas no Alto Douro tomates em Azeitão azeite da cor do ouro que é verde ao pé do Fundão e fica amarelo puro nos campos do Baleizão. Quando a terra for do povo o povo deita-lhe a mão! É isto a reforma agrária em sua própria expressão: a maneira mais primária de que nós temos um quinhão da semente proletáriada nossa revolução. Quem a fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão. De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse um menino que sorriu uma porta que se abrisse um fruto que se expandiu um pão que se repartisse um capitão que seguiu o que a história lhe predisse e entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo que levantava sobre um rio de pobreza a bandeira em que ondulava a sua própria grandeza! De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse e só nos faltava agora que este Abril não se cumprisse. Só nos faltava que os cães viessem ferrar o dente na carne dos capitães que se arriscaram na frente. Na frente de todos nós povo soberano e total que ao mesmo tempo é a voz e o braço de Portugal. Ouvi banqueiros fascistas agiotas do lazer latifundiários machistas balofos verbos de encher e outras coisas em istas que não cabe dizer aqui que aos capitães progressistas o povo deu o poder! E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe! Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!
Como diz Jorge Palma: "A liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo"
Viva a Liberdade!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Em águas profundas...

Em águas profundas,
De terrenos mortos,
Viviam imundas.
Em contornos tortos.

Longe da claridade,
Do calor e da coloração,
Desprovidos de vaidade,
Desprovidos de paixão?

A sua vida tem um custo,
Uma luta incessante,
Um mundo em tudo injusto
Um número inconstante.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Poema III

Não quero ser cruel contigo, Não quero crueldade, meu amigo. És perfeito e gosto de ti assim Vem comigo para o nosso jardim. Quero-te sentir na minha companhia Amar-te, assim, com alegria Ser apenas a tua menina Tornar-te meu para toda a vida Gosto de ti. Penso que já o sabias Mas ao dizê-lo mais uma vez Sinto que assim acreditas O segredo... é de quem o fez.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Aula de Compensação de Inglês

A todos os alunos da turma 3 a inglês com a professora Ana Morais, quero comunicar que não há aula dia 17 de Maio (quinta-feira), portanto ficam aqui as alternativas possíveis de horário para se marcar uma aula de compensação. Segunda-feira: 8:30; 10:00; 17:00 Quarta-feira: 8:30; 10:00; 17:00 Quinta-feira: 8:30; 17:00 Sexta-feira: 8:30; 10:00; 11:30; 14:00; 17:00 Mandem-me um e-mail com a vossa escolha. O meu mail é argea_@hotmail.com Obrigada

sábado, 14 de abril de 2007

"Freedom Writers"

"Freedom Writers" é um filme que ainda não estreou a Portugal (nem sei se vai estrear, infelizmente), mas que já causou sensações pelo resto do mundo. É muito parecido com o filme de 1995 "Dangerous Minds" (mentes perigosas), mas esta nova versão baseia-se num livro real, num livro feito a partir da compilação de diários que os alunos de uma turma escreveram ("The Freedom Writers Diaries" - 1999). Inclusive, algumas das partes desses diários são-nos contadas durante o filme.
O que impressiona tanto neste filme é o facto de terem havido adolescentes a viverem exactamente o que as personagens viveram... É saber que o que estamos a ver aconteceu na realidade, com pessoas como nós... É conhecer outra realidade sem ser a nossa, e ver que existem diferentes formas de lidar com o dia-a-dia, diferentes situações, dierentes problemas, diferentes vidas...
Eu não quero contar o filme, caso queiram depois ver, mas gostava de deixar aqui o que podem esperar do filme. Trata-se de um escola onde todos se separam por grupos, e há guerras entre os grupos. Mas um dia, chega uma professora que vai mudar isso numa turma. E, mais importante, vai dar um diário a cada um, para escreverem todos os dias, sobre qualquer coisa: o passado, o presente, o futuro; e como quiserem: poema, desenho, prosa. E é com esses diários que a professora vai compreender o que estão a passar, e então poder ajudar.
É um filme que eu aconcelho a ver. Quer dizer, pelo menos a pessoas que gostem de filmes cujo principal enredo é a tentativa de alcançar objectivos por parte dos jovens. É ter coragem e nunca desistir de seguir o que se pretende. É mudar a vida dos jovens, tornando-os fortes, levantando-lhes a auto-estima, mostrando-lhes que eles são capazes de muito mais...
Não dizendo mais nada, deixo-vos a vocês a decisão de verem ou não o filme, e dizerem o que acharam.
Se quiserem ver no IMDB este filme, o site é
Se quiserem ver o trailer
Ao lerem agora o que escrevi, podem ter ficado com uma espectativa muito alta que não vai de encontro com o que vocês viram do filme. Eu adorei o filme, mas vocês podem ter outra visão. Por isso, não fiquem com a minha prespectiva na cabeça, para quando forem ver o filme (se forem) verem-nos com os vossos próprios olhos, e não através dos meus.

Saudades

Madrugada clara e fria, Momentos de saudade, de alegria. Penso num tempo ausente Que incomoda o tempo presente. Tento abstrair-me dessa tristeza, Sei que pretendo viver em clareza De espírito, mas não me esforço. Para quê? Sei que não posso. As saudades são coisas banais. A vida corre satisfeita sem demais. E eu preciso de esquecer o passado Porque tudo o mais é complicado. Já não quero ter saudades Dos cheiros, das claridades Que emanam da perfeição. O hoje não encaminha para a perdição. O hoje encaminha para figuras Para histórias e lendas mais seguras, Que serão no futuro o passado Do meu presente inacabado.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

licenciaturas

Então e agora? O primeiro-ministro é melhor ou pior? cultura e intelectualidades lá isso ele tem... visão também, e o modo como se exprime? (hum... maravilhoso) Até é charmoso... mas com licenciatura torna-se sempre diferente aos nossos olhos não é? O povo português só quer saber se ele é "dôutor" ou "engenhêro" porque, de resto, o que interessa é andar por aí a dizer que o governo só nos sabe é lixar a vida... Depois o que interessa é saber se ele se vai re-candidatar em 2009, se vai baixar os impostos poucos meses antes das eleições como propaganda eleitoral... Há questões que levam o seu tempo... por vezes é necessário espicaçar para que se apressem mas, por vezes, também é necessário ter paciência. Neste caso aplica-se bem o ditado popular: "Dá-se um dedo, querem logo o braço todo!"

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Salazar é o maior português de sempre!(?)

Apesar de a comunicação social não ter dado grande relevo ao facto de o povo português ter eleito António de Oliveira Salazar como o maior português de sempre, vou gastar algum tempo a exprimir a minha opinião sobre o assunto. Quanto a mim, a vitória não foi justa - só o seria se tivesse sido Afonso Henriques ou mesmo Vasco da Gama a vencer. Mas a vitória conseguida por todos aqueles que defenderam o ditador é bastante merceida; foi um esforço de sucesso para limpar a imagem deste personagem da nossa História. Muito do povo português foi desde sempre influenciado pelos comunistas, ao tornar Salazar num "monstro". A grande questão é que, na sua governação, raramente existiu desemprego, tínhamos segurança nas ruas, podíamos andar até às tantas na rua sem sermos assaltados (agora até o somos a meio do dia, imagine-se...), as Finanças apresentaram uma melhoria brutal, escapámos à II Guerra Mundial e muitos outros aspectos que hoje são inatingíveis. Claro que, para existir prosperidade governativa, era necessária a existência de um regime rígido. Não esquecer que a ditadura militar já existia desde 1928 (Salazar sobe ao poder em 1933). Com a queda da ditadura, o Comunismo desejava começar a proliferar no nosso país; isso foi claramente notável quando, por exemplo, as terras deixaram de ser propriedade privada e passaram a ser "de todos"... Muitos outros acontecimentos deste género se deram, mas foram completamente abafados pela criação dessa figura monstruosa que era Salazar. Assim foi dito no programa final dos "Grandes Portugueses", Álvaro Cunhal fez tudo por deitar abaixo a ditadura para depois, ele mesmo, criar uma ditadura comunista - não devemos esquecer que Álvaro Cunhal era um estalinista... É bastante engraçado ele ser considerado um herói nacional porque, era a mesma coisa que existir alguém que tivesse ideiais hitlerianos. Estão a ver onde quero chegar? É também engraçado que não se tenha na ideia que Estaline foi tão mau como Hitler. De facto, foi até pior. Estaline matou 100 milhões de conterrâneos seus em condições terríveis nos desertos siberianos. Hitler matou 40 milhões. Onde quero chegar é ao facto de todos os portugueses terem uma imagem tão boa do Comunismo em si, sem sequer se esforçarem por conhecer a sua história... De qualquer forma, expresso aqui - para que não existam ataques à minha opinião - que não sou defensor de Fascismos nem de Comunismos, nem de Ditaduras ou liberdades desmesuradas, sou apenas um tipo normal que se orgulha da História do seu país, que quer ter um país seguro e que, acima de tudo, sonha com que todos gostem do país que têm.