terça-feira, 30 de janeiro de 2007
O que é que achas disto?
O conformismo permanece num mundo em que a reflexão sobre o que ainda não aconteceu é uma constante. Uma das problemáticas, que são muitas, nas camadas jovens dos dias de hoje é que antes de construirem algo pensam demasiado nos pontos-chave que envolvem o projecto, desde a sua finalidade, passando pela valorização dos esforços para conseguir chegar e, também, até que ponto nos afectará pessoalmente. Logo, o jovem tem a tendência de fazer uma análise demasiado construtiva daquilo que ainda não fez, o que poderá conduzir a um vazio interior em que a pessoa, depois de analisar todas as causas, consequências e mudanças de comportamento dela própria em relação à tomada de consciência que é a vida e os seus meandros, terá uma atitude de negação perante o que lhe é apresentado como alternativa. Pois já reflectiu algures no meio da noite que esse caminho que lhe está a ser indicado não valerá a pena.
Essa atitude, a meu ver, é errada. E esta problemática acção/reflexão é uma consequência infecciosa da dualidade corpo/razão.
O que nos ficou do pensamento socrático e que mais tarde foi traduzido pelo cristianismo como sendo um pecado, é a ideia de esquecer o corpo, pois este só traz sofrimento, aliado à concepção cristã de que tudo o que possamos fazer para atingir o prazer é pecado e que mais tarde seremos amaldiçoados ou castigados (como eram os Deuses da grécia antiga).
À luz destas linhas de reflexão, pergunto-me onde será que reside a verdade? Não a minha, nem a da espécie humana, pois como seres racionais não devemos tentar saber. Porque, na verdade, essa verdade (se é que existe) não é para ser pensada nem sabida, é para ser sentida e vivida. Porque ela existe e está intimamente ligada a nós através daquilo que tocamos e experimentamos.
É só através dos sentidos que conseguimos saber tudo sobre a vida, porque se nós existimos, se vivemos e sentimos as coisas é porque faz parte da nossa natureza fisiológica e não de um desenvolvimento mental para perceber a verdade. Na verdade, aqueles que menos sabem alcançam-na melhor mas depois perdem o outro lado fabuloso que é:
* Conhecer tudo o que existe para conhecer e que, por vezes, só é possível quando se sabe ler, escrever, matematizar ou pensar e também o facto de expressarmos os nossos sentimentos através da arte ou do diálogo com os outros;
Esta transmissão de conhecimento daquilo que se aprendeu pelo mundo fora exige uma capacidade de raciocínio e com isso uma melhor forma de expressão.
O pensamento serve como uma descodificação dos sentimento mas que não precisam de ser descodificados a qualquer hora. É quando se quer ou quando se precisa.
Com esta aceitação amena da conjugação Razão/Corpo/Vida o homem compreenderá melhor a sua condição na vida.
E a vida o que é? É respiração, é instintos e pulsões, é a busca de algo.
Se observarmos os animais irracionais reparamos que eles fazem o mesmo. E a vida é mesmo essa simplicidade da procura de algo que nos faça sentir bem naquele momento que a temos.
E a insatisfação é óptimo para a realização pessoal assim como a insistência naquilo que nos faz bem porque enquanto nos vai fazendo bem a outra parte de nós sente-se também liberta para o encontro com outras novidades.
Se a realização é no campo corporal, a nossa parte racional sentir-se-à bem para novas descobertas e vice-versa.
A conjugação dos dois é parte essencial na vida e a descrença numa das partes só leva à insatisfação e à angústia.
Mas este será o primeiro passo para a evolução de pensamento, porque é isso que falta na sociedade de hoje. É abrir as portas da casa, que é a vida quotidiana, e seguir o caminho sem o ver. É seguir pelo instinto, é aproveitar a estrada e sentir a areia miudinha do caminho nos pés. É dormir numa árvore que certamente aparecerá e comer frutos silvestres. É correr quando se quer e andar para trás quando é preciso. É dar voltas ao contrário ou sobre si mesma. O que interessa é aproveitar aquilo que se vive no momento e não pensar no que é que aquilo vai levar. Pois talvez não leve a lado nenhum. Não é isso que se pretende da vida. Porque a verdadeira realização não existe quando se consegue atingir algo, existiu foi durante o percurso para o atingir, daí haver insatisfação quando se atinge o que se quer porque o querer mais comprova que a magia está no esforço que se faz para atingir e não na conquista desse objectivo.
Esse percurso é visto por esta sociedade como um sacrificio em torno do qual se dividem dois grupos: os que se sacrificam e os que não se sacrificam.
Os que se sacrificam têm objectivos demasiado fortes, que muitas vezes são impostos, mas que se agarram à convicção de que terão uma vida melhor, ou se centram na ideia de luxo e do que poderão comprar. Outros, têm um Deus a quem dedicam o sacrifício como forma de descargo da consciência: “ao menos se falhar tentei e já serei recompensado” ou “é a ti – Deus - que dedico a minha caminhada para que no final me seja dada a recompensa”.
E também existem os que não se sacrificam (a maioria) encostando-se às paredes à espera que ela caia para poderem passar. Esta forma de encarar a vida é errada porque se o homem encara a descoberta do mundo e da vida como um sacrifício nunca poderá tirar proveito dela.
Este conformismo leva as pessoas a adoptarem formas de vida que não são os mais correctos e (como é a maioria) tornam-se num aglumerado que tem demasiada força para ser confrontado – a sociedade.
Entretanto quem é “diferente” – que está mais próximo da sua essência – é apontado na rua, discriminado e injustiçado. E esta, é a maior injustiça (como todos sabem) que continua a ser feita ao longo dos anos.
A discriminação não vai acabar nunca, porque para cada época existem parâmetros de vida e de gostos que, por mais estúpido que seja, são impostos e não só inconscientemente porque, por vezes, somos mesmo obrigados a aderir e abdicar de outras coisas que nos faziam bem.
Cada geração tem um dogma qualquer pelo qual a tal sociedade se guia e como se tornam num conjunto de ideais fortificados (pelo número) dão cabo de quem só quer viver...
A maioria dessas pessoas agarra-se ao que é mais fácil, daí o conformismo, e acaba por entrar numa onda de cinismo.
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